A Coalizão Brasil para o Financiamento da Restauração e Bioeconomia (BRBFC) acaba de lançar o estudo “Mapeamento de Empreendimentos, Fundos Comunitários e Organizações Facilitadoras de Povos Indígenas e Populações Tradicionais”, um guia essencial para investidores que buscam direcionar capital para a bioeconomia comunitária no Brasil. O estudo visa promover uma das metas da Coalizão: mobilizar pelo menos US$ 500 milhões para projetos que beneficiem diretamente as populações indígenas e as comunidades locais.
O estudo, que visa orientar investidores brasileiros e estrangeiros, identificou e analisou 37 organizações com alto potencial de impacto socioambiental e climático, predominantemente localizadas na Amazônia. Essas iniciativas, que incluem empreendimentos liderados por populações tradicionais (como quilombolas) e povos indígenas, fundos comunitários e organizações facilitadoras (que fortalecem as capacidades das comunidades locais e facilitam aportes financeiros), têm necessidades de investimento que variam de R$ 100 mil a R$ 300 milhões por projeto.
O levantamento reforça a necessidade e a urgência da adoção de mecanismos de financiamento climático para essas atividades. Os empreendimentos de povos tradicionais contribuem para a preservação da biodiversidade e a sustentação das comunidades locais, mas precisam superar desafios logísticos, aumentar a capacidade produtiva e qualificar a mão de obra. “Estamos falando de soluções efetivas que já existem e que queremos potencializar a partir dos bons resultados já alcançados pela Coalizão”, afirma Karen Oliveira, Diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy (TNC). O estudo foi realizado pela TNC, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), ambos membros da BRB FC.
A pesquisa também nos lembra que territórios e unidades de conservação indígenas e quilombolas são fundamentais para a captura de carbono, pois preservam ecossistemas e, ao mesmo tempo, produzem. Florestas manejadas por essas populações, utilizando práticas tradicionais e sustentáveis, podem capturar até duas toneladas de CO₂ por hectare por ano. É importante destacar que, diferentemente do resto do mundo, 73% das emissões do Brasil são provenientes do uso inadequado da terra.
O estudo conclui que existe uma rede robusta de empresas comunitárias, fundos locais e organizações facilitadoras que operam em áreas estratégicas para o enfrentamento da crise climática. No entanto, embora tenham grande capacidade de adaptação e inovação, essas iniciativas são limitadas pela falta de acesso a recursos financeiros, tornando urgente a adoção de soluções financeiras mais adequadas à realidade desses territórios e empreendedores.
Algumas recomendações prioritárias para o ecossistema de finanças comunitárias no Brasil são: fortalecer os fundos comunitários existentes e incentivar a criação de novos; estabelecer linhas de financiamento de longo prazo para organizações facilitadoras; incluir empresas comunitárias em estratégias de financiamento climático; estimular redes de colaboração entre financiadores, fundos comunitários e organizações facilitadoras; criar mecanismos de financiamento emergencial para adaptação climática; e desenvolver instrumentos de crédito inovadores e acessíveis.